Lidando com decisões complexas
A tomada de decisão em um mundo cada vez mais complexo,
descentralizado e imprevisível não é fácil. O que explica isso é o fato
de que nosso cérebro ainda funciona da mesma maneira de quando éramos
homens das cavernas, dominado por nossas necessidades biológicas. Para
falar sobre como lidar com tal limitação, o Fórum HSM Novas Fronteiras
da Gestão 2012 trouxe Eric Bonabeau, um dos maiores especialistas do
mundo em sistemas complexos e em sistemas adaptativos para a resolução
distribuída de problemas.
Bonabeau explicou que as múltiplas variáveis envolvidas em sistemas
complexos provocam resultados inesperados. “Se construirmos uma pista
adicional numa rodovia, a velocidade média dos veículos deveria
aumentar, mas isso não acontece sempre. Às vezes, mais significa menos”,
disse o francês. “Por outro lado, temos exemplos reais de rodovias que
reduziram o limite de velocidade de circulação dos veículos e
conseguiram o aumento da média geral de velocidade com essa iniciativa.
Nesse caso, menos significa mais.”
Com seu estilo bem humorado, o especialista elencou cinco aspectos
que devem ser considerados na análise de sistemas complexos para se
obter melhor eficiência nas decisões. São eles:
1. Médias são de morte;
2. Causalidade é uma vadia;
3. O futuro não é o que costumava ser;
4. Postes de luz são para suporte, não iluminação;
5. A multidão nem sempre é louca.
2. Causalidade é uma vadia;
3. O futuro não é o que costumava ser;
4. Postes de luz são para suporte, não iluminação;
5. A multidão nem sempre é louca.
Errando com a média e a casualidade
Decisões em sistemas complexos exigem a análise de estatísticas.
Bonabeau chama a atenção, no entanto, para os dados que são apresentados
pela sua média, uma vez que esse viés despreza as flutuações que
ocorrem ao longo do tempo. “Médias nem sempre representam a realidade.
Em determinados sistemas, as flutuações fazem muita diferença”,
explicou.
Outro ponto fundamental para lidar com a complexidade, na visão do
especialista, é aprender a diferenciar a casualidade de uma possível
correlação entre dois indicadores. Em tom de brincadeira, Bonabeau
apresentou um gráfico com dados reais que mostravam o aumento da
criminalidade em uma cidade quando caia o consumo de vinho. “Tomar mais
vinho certamente não vai fazer a criminalidade da cidade diminuir. A
dificuldade de distinguir a diferença entre casualidade e correlação nos
leva a decisões erradas”, alertou.
O palestrante afirmou que decisões equivocadas como essas acontecem o
tempo todo. Ele deu como exemplo a venda de um produto pela internet:
“Numa venda online, o último clique garante a realização do valor.
Obviamente, isso não significa que todo o valor da operação foi
construído ali. Inúmeras etapas foram necessárias para convencer o
consumidor a efetuar aquela compra. No entanto, ainda existem pessoas
que olham apenas para o último clique.”
Lidando com incertezas
“O passado não é um bom preditor do futuro”, disse Bonabeau.
“Antigamente, o surgimento de um cisne negro era considerado algo
extremamente raro e extraordinário. Hoje, existe um grupo cada vez mais
numeroso dessa variedade. Eventos inesperados podem se tornar
corriqueiros”, acrescentou.
Transportando seu exemplo para o mundo empresarial, o francês citou o
caso de empresas que foram surpreendidas por eventos absolutamente
inesperados, que levaram a grandes prejuízos. Fatos como esse podem ser
desencadeados de diversas formas, até mesmo com a disseminação
involuntária de um boato.
Bonabeau afirmou, ainda, que o cérebro humano está condicionado a
procurar soluções usando os meios que conhecemos melhor. “Nosso cérebro
prefere procurar aquilo que está cognitivamente disponível. Por isso nem
sempre encontra.” A solução para isso, segundo ele, está na busca de
respostas em locais inesperados. “Aprender a lidar com a diversidade é
fundamental para encontrar o novo”, elucidou.
Nesse aspecto, a avaliação de grupos numerosos pode ser útil. “A
observação do comportamento da multidão não significa necessariamente a
coisa certa a se fazer, porque na maioria das vezes eles não agem de
maneira eficiente espontaneamente”, disse, ponderando que, por outro
lado, adicionando componentes de diversidade você pode descobrir a
resposta que procura.
Outra sugestão deixada por Bonabeau é que se incentive o
comportamento espontâneo: “As pessoas tornam-se mais felizes quando
fazem aquilo que gostam, mesmo que precisem trabalhar mais. Se você
precisa redefinir as regras de um sistema, não se esqueça de considerar
isso em suas decisões.”
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