# Um caso a pensar....
Será estamos preparados para um mundo sem os computadores.....
Sugestão para 2012: adequar o setor de TI ao mundo pós-PC
Todo fim de ano são publicados inúmeros relatórios de analistas de
indústria, apontando as tendências para os próximos anos. O que fiz? Li a
maioria deles e identifiquei que, com algumas pequenas variações, são
muito parecidos. Mas, em conversas com diversos amigos senti que existe
muita desconfiança em relação a essas tendências. Talvez porque muitos
pensem em tendências como modismos e que, como tal, passarão rápido.
Mas, em ciências, tendência signfica “uma direção geral na qual algo
está se desenvolvendo ou mudando”. Por outro lado, existem dois tipos:
as frágeis e as sólidas.
Uma tendência frágil é algo que pode acontecer, um futuro incerto, um
talvez. Quase uma aposta. Mas uma tendência sólida é uma projeção
baseada em fatos e eventos, tangíveis e perfeitamente mensuráveis.
Assim, dos diversos relatórios, filtrei as tendências que me pareceram
mais sólidas, fundamentadas em números e fatos concretos. A lista então
se resumiu a cinco tendências: Cloud Computing; Mobilidade com
dispositivos cada vez mais sofisticados; Mídias sociais; Consumerização
de TI; e Big Data. Nada de novo. Coincide com a maioria dos relatórios.
Mas gostaria de debater cada um deles um pouco mais exaustivamente.
Mas, antes de entrar na discussão, venho observando nos eventos dos
quais participo e nas conversas com CIOs que está se alargando a
distância entre o que os usuários desejam e usam em tecnologia e o que a
área de TI realmente fornece. Se agruparmos as tendências acima,
percebemos que elas estão modificando significativamente as plataformas
de entrega de informações e os canais de comunicação e colaboração
(cloud, mobilidade, mídias sociais e Big Data). Porém, o processo de
mudança está sendo impulsionado pelos usuários (consumerização de TI),
com as áreas de TI muitas vezes remando contra.
O gap entre os desejos dos usuários (e o que eles usam no seu dia a
dia pessoal) e o que as áreas de TI permitem que eles usem nas empresas
está aumentando. O setor de TI ainda é gerenciado pelos métodos
tradicionais, como as práticas de gestão de projetos da década passada,
com preocupações (algumas legítimas e outras nem tanto) de segurança,
processos burocráticos e uma quase total aversão à introdução de
inovações tecnológicas nas empresas. Claro que aqui estou generalizando,
pois nem todas as empresas têm setores de TI reativos a mudanças, mas a
percepção que tenho é que ainda existe muita aversão a mudanças dentro
de TI.
Um exemplo: os usuários estão acostumados a acessar um app market e
trazer para seu smartphone ou tablet aplicações fáceis de usar e
intuitivas em suas interfaces. Mas os sistemas que usam internamente nas
suas empresas têm interfaces complicadas e nada intuitivas. E são
difíceis de ser instaladas e utilizadas. Precisam de servidores, um
aparato tecnológico de middleware e semanas de espera para ter acesso
aos aplicativos. Dois mundos diferentes.
Vamos às tendências. Cloud computing está se firmando como uma
tendência bem sólida. Existe todo um ecossistema em torno, com muitos
esforços e investimentos acontecendo ao seu redor. Muitas empresas já
estão usando cloud em aplicações secundárias, embora as preocupações com
segurança e as percepções quanto à confiabilidade das nuvens públicas
ainda sejam meio duvidosas. Mas, vejamos o item segurança por exemplo:
quantos data centers, principalmente das pequenas e médias empresas (e
muitas grandes) têm políticas realmente adequadas e auditadas de
segurança? Quantas têm modelos de governança em estágios aprimorados?
O que muitos dos gestores de TI dessas empresas têm é a enganosa
percepção que tendo o servidor por perto os seus dados estarão seguros.
Entretanto, acessos indevidos não são vistos a olho nu. Podem estar
acontecendo nesse momento que o gestor olha para seu servidor. E esse
acesso, invisível, nem deixa rastros. Por que acredito que cloud é uma
tendência sólida? Os mesmos questionamentos aconteceram quando do
surgimento do cliente-servidor e do e-commerce, que hoje são comuns. As
percepções negativas serão resolvidas em pouco tempo e o nível de adoção
deve acelerar exponencialmente nos próximos anos.
Um data center de um provedor de nuvem de âmbito global é muito mais
seguro que um data center de uma pequena empresa. Existe 100% de
segurança? Não, em nada veremos 100% de segurança. Mas, pensem em viajar
de avião. A possibilidade de acontecer um acidente existe e é real, mas
é baixíssima. Quando acontece fica na mídia por vários dias. Porém, no
mesmo período, centenas de pessoas morrem em acidentes de trânsito e
quase nada é publicado. Viajar de avião é muito mais seguro que viajar
em um automóvel. As estatísticas confirmam isso.
Outro ponto para pensar: os benefícios de cloud vão muito além da
proposta de redução de custos, pois permite a rápida criação de novos
produtos e serviços e traz muito mais agilidade ao negócio (imagine
dispor de uma aplicação em minutos ao invés de semanas). Recomendação:
se você estiver planejando adotar cloud até o fim de 2012, comece agora a
implementar seus primeiros projetos-piloto.
Outras tendências são a mobilidade e o crescente uso de smartphones e
tablets. A capacidade computacional desses equipamentos está dobrando a
cada ano e, se imaginarmos cinco ou seis anos à frente, teremos pelo
menos uns quatro ciclos tecnológicos e isso significa que um smartphone
ou tablet de 2016 terá pelo menos 16 vezes mais capacidade que os de
hoje. Mas as empresas ainda relutam em aceitar de forma ampla esses
equipamentos. Os setores de TI estão organizados pelo tradicional método
de software on-premise e o modelo de app market é completamente
diferente.
Por que as empresas não podem pensar em adotar o modelo de App Store
para suportar os aplicativos dos smartphones e tablets de seus
funcionários? Já começam a aparecer soluções no mercado que permitem
criar e gerenciar essas lojas internas. Um exemplo interessante de caso
real é o apps.gov do governo federal dos EUA, que é um App Store para
aplicativos, que rode em ambientes de cloud, disponíveis para os órgãos
governamentais americanos.
Interessante que outra tendência, mídias sociais, ainda gera
controvérsias. Os números são impressionantes: 30 bilhões de peças de
conteúdo foram adicionadas ao Facebook mês passado, mais de 2 bilhões de
vídeos foram vistos no YouTube, ontem. Cada adolescente, em média,
envia quase 5 mil mensagens SMS por mês, e no último mês mais de 32
bilhões de pesquisas foram efetuadas no Twitter. Mas, apesar desses
números, muitas empresas não liberam seu uso pelos funcionários. O que
essas restrições acabam gerando? Os funcionários usam as mídias sociais
por conta própria, por meio de seus smartphones e tablets, “bypassando” a
área de TI. E, pior, volta e meia ouço alguém dizer que mídia social
não é da competência do setor de TI e que deve ser um setor a parte. Se a
área de TI entender dessa maneira estará tomando suas primeiras pílulas
de cianeto.
Big Data está se delineando no horizonte. Uma simples pesquisa usando
“Big Data” no Google me traz mais de 11 milhões de hits. Um tsunami em
alto mar não é facilmente reconhecível, mas ao chegar à costa causa uma
devastação imensa. Big Data é um tsunami ainda longe da costa, mas com a
velocidade com que está correndo, em muito pouco tempo estará entrando
empresa a dentro. Se a área de TI não se preparar, vai ser terrivelmente
afetada pelos seus efeitos.
Big Data deve ser visto como um efeito multiplicador de três
variáveis ou três “Vs”: Volumes de dados cada vez maiores (gerados por
sistemas corporativos, mas também por mídias sociais e sensores e outros
dispositivos), Variedade (dados estruturados e não estruturados, como
os obtidos dos twitters e facebooks e de câmeras de vigilância), e
Velocidade, pois demanda uma resposta quase em tempo real para agir no
próprio evento gerador das informações. O modelo atual de análise de
dados, baseado em data warehouse e BI, olha para os dados do passado e
não reconhece o que está sendo gerado nesse exato momento.
E, finalmente, a quinta tendência, que é a impulsionadora das demais
dentro das empresas: a consumerização de TI. As novas tecnologias chegam
às empresas impulsionadas por seus funcionários e clientes e não pelas
áreas de TI. O setor de TI já não é mais o setor inovador na empresa. O
efeito? A criação do fenômeno do “shadow IT” com os usuários
“bypassando” TI onde puderem. Para fazer frente à rapidez com que essas
novas tecnologias entram nas empresas, o setor de TI deve ser
reengenheirado. Não pode mais se agarrar aos métodos e aos processos
criados na década passada (na era PC) e que mantêm até hoje, no mundo
pós-PC. Tem de se atualizar frente aos novos cenários. Isto implica em
novos modelos de governança (mais descentralizados) e incentivar a
adoção de novas tecnologias (os usuários o farão sem TI). Em resumo, TI
deve assumir o papel de liderar o processo de inovação e não ser a
barreira para a adoção dessas tecnologias.
O mundo pós-PC implica em mudanças culturais significativas no setor
de TI. Começaremos a ver, com ou sem apoio de TI, movimentos como BYOD
(Bring Your Own Device) para tablets e smartphones, seguidos por BYOC
(Bring Your Own Cloud) e BYOA (Bring Your Own Application). Parece
inimaginável pensar dessa forma. Mas há meros seis ou sete anos quem
pensava em um iPhone? Ou em um tablet? Em 2007, surgiu o iPhone e em
2009, o tablet, e em poucos anos estarão vendendo muito mais que os PCs
que surgiram 30 anos atrás.
Portanto, avaliar as tendências não significa apenas ler os vários
relatórios e voltar a olhar o dia a dia, sem pensar nas consequências
que elas trarão para as empresas e para o setor de TI. Assim, se TI
quiser manter sua importância na empresa, e não se tornar um mero setor
operacional, deve prestar atenção aos impactos que essas tendências
trarão nos hábitos e demandas das empresas e seus funcionários. A
sugestão é simples: reengenheirar o setor de TI para se adequar ao mundo
pós-PC. Um setor de TI agarrado ao mundo PC, ignorando todas essas
tendências sólidas, está caminhando para o desaparecimento. Vai voltar a
ser o velho e obsoleto CPD.
Cezar Taurion
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